O que é o Transtorno Específico de Aprendizagem ou Transtorno de Aprendizagem?
Existem algumas habilidades como andar e falar que emergem naturalmente com a maturação cerebral. Diferentemente delas, as habilidades acadêmicas (p. ex., leitura, ortografia, escrita, matemática) precisam ser ensinadas e aprendidas.
Transtornos específicos da aprendizagem perturbam o padrão habitual de aprendizagem de habilidades acadêmicas fundamentais de maneira persistente e têm início na maior parte dos indivíduos durante os primeiros anos de escolarização. O prejuízo causa interferência significativa no desempenho acadêmico ou profissional, haja vista que as habilidades estão bastante abaixo do esperado para idade cronológica da criança.
As dificuldades podem aparecer um pouco mais tardiamente, conforme aumente o nível de exigência na escola, com aumento no número de matérias e professores, com uso de testes e provas com tempo cronometrado, com necessidade de leitura de textos longos em tempo curto etc.
As dificuldades incluem leitura exata e fluente de palavras isoladas, compreensão da leitura, expressão escrita e ortografia, cálculos aritméticos e raciocínio matemático (solução de problemas matemáticos).
As dificuldades persistentes nas habilidades acadêmicas básicas costumam trazer impacto em matérias como história, geografia e ciências, que dependem das habilidades de leitura, escrita e matemática.
O que diferencia um Transtorno Específico de Aprendizagem de uma Dificuldade Escolar?
A principal diferença entre as duas está na persistência da dificuldade. Uma criança com dificuldade escolar consegue contornar mais rapidamente a situação com ajuda adicional em casa e na escola.
De forma geral, quando a criança não responde a essa ajuda, mantendo a dificuldade por mais de seis meses, ou caso as dificuldades sejam muito acentuadas já no início da escolarização, deve-se encaminhá-la para uma avaliação com um médico como neurologista infantil. A avaliação visa o diagnóstico médico de um Transtorno Específico de Aprendizagem.
O que é preciso descartar antes do diagnóstico de um Transtorno Específico de Aprendizagem?
Para o diagnóstico, as dificuldades aprendizagem da criança não podem ser mais bem explicadas por outras causas como deficiência intelectual, déficits não corrigidos de acuidade
visual ou auditiva, outros transtornos psiquiátricos ou neurológicos, condição psicossocial muito adversa, falta de fluência na língua de instrução acadêmica (como no caso de crianças imigrantes) ou instrução educacional inadequada.
Como é feito o diagnóstico de um Transtorno Específico de Aprendizagem?
O diagnóstico é feito por meio da história educacional, familiar, médica e do desenvolvimento da criança, utilizando também de relatórios escolares e avaliação psicoeducacional.
Quais são os três tipos de Transtorno Específico de Aprendizagem?
Os três tipos de Transtorno Específico de Aprendizagem são:
- Com prejuízo na leitura (a dislexia é um termo alternativo para esse diagnóstico);
- Precisão na leitura de palavras; velocidade ou fluência da leitura;compreensão da leitura.
- Com prejuízo na expressão escrita;
- Precisão na ortografia; precisão na gramática e na pontuação; clareza ou organização da expressão escrita
- Com prejuízo na matemática (a discalculia é um termo alternativo para esse diagnóstico).
- No senso numérico; memorização de fatos aritméticos; precisão ou fluência de cálculo; precisão no raciocínio matemático
Qual a frequência na população dos Transtornos Específicos de Linguagem?
O transtorno específico da aprendizagem nos domínios acadêmicos da leitura, escrita e matemática acomete 5-15 a cada 100 crianças em idade escolar, sendo mais comum no sexo masculino do que no feminino (as proporções variam de cerca de 2:1 a 3:1).
Quais são alguns sinais de alerta para Transtorno Específico de Aprendizagem que pode ser observado em crianças pré-escolares?
Crianças pré-escolares com transtorno específico da aprendizagem podem,
com frequência, falar de forma mais infantilizada “como bebês”, podem pronunciar com dificuldade as palavras e ter dificuldade para lembrar os nomes de letras, números ou dias da semana.
Para elas pode ser mais difícil reconhecer as letras do próprio nome, escrever o próprio nome e aprender a contar. Podem ter dificuldades para separar palavras faladas em sílabas (p. ex., vaso, separado em va-so), bem como ter problemas em jogos envolvendo reconhecimento de rima entre palavras (p. ex., palito, cabrito e periquito).
Pode-se observar ainda problemas para conectar letras e seus sons (p. ex., a letra “p” tem o som /p/) e podem também não ser capazes de reconhecer fonemas (p. ex., não sabem qual, em um conjunto de palavras [p. ex., capa, bola e rato], inicia com o mesmo som de “casa”).
Além disso podem ser observadas dificuldades para segurar o lápis e passar as páginas do livro.
Outras possibilidades são grandes diferenças nas habilidades, como uma grande facilidade para desenho associada a uma grande dificuldade com as palavras ou em aprender a contar.
Como se comportam as crianças com Transtorno Específico de Aprendizagem durante o ensino fundamental?
Costuma haver dificuldade acentuada para aprender a correspondência entre letra e som, decodificar as palavras com fluência, escrever com a ortografia esperada para a idade ou compreender fatos matemáticos.
A leitura em voz alta pode ser lenta, imprecisa e trabalhosa, e algumas crianças sofrem para compreender a magnitude que um número falado ou escrito representa, ou noções de tempo, ordenação dos meses do ano, estações, diferenças de grandezas, distâncias e noção de maior e menor.
Com isso, não é incomum que as crianças evitem as tarefas que envolvam as dificuldades que sentem.
Como se comportam as crianças com Transtorno Específico de Aprendizagem durante o ensino médio?
Os adolescentes podem ter aprendido a decodificar as palavras, mas a leitura
permanece trabalhosa, com grandes problemas na compreensão do conteúdo lido e
na expressão escrita (incluindo erros ortográficos), bem como domínio insatisfatório de fatos matemáticos ou solução de problemas matemáticos.
Com frequência, podem precisar reler os textos e enunciados para compreender o ponto principal. Adolescentes e adultos com o Transtorno podem evitar atividades envolvendo leitura ou matemática (fazer cálculos mentais, leitura por prazer, leitura de manuais de instruções).
Quais os fatores associados ao Transtorno Específico de Aprendizagem?
Fatores perinatais como prematuridade, muito baixo peso ao nascer e exposição pré-natal a nicotina estão associados ao Transtorno Específico de Aprendizagem. Além disso, parentes de primeiro grau de pessoas com transtorno específico de aprendizagem da leitura ou da matemática têm risco de 4 a 10 vezes mais alto de ter o mesmo diagnóstico.
Problemas de desatenção nos anos pré-escolares predizem dificuldades posteriores em leitura e matemática. Além disso, Transtornos de Fala e Linguagem e atrasos de linguagem também predizem o transtorno específico de aprendizagem.
Se a criança também tiver o diagnóstico de TDAH, há maiores chances de problemas de saúde mental associados tais como sintomas depressivos
E como se dá o acompanhamento dessas crianças?
Recomenda-se instrução intensiva e individualizada da criança com transtorno específico de aprendizagem, utilizando intervenções psicopedagógicas para melhorar ou diminuir as dificuldades de aprendizagem em algumas crianças ou promover o uso de
estratégias compensatórias em outros.
Com isso a criança pode ter acesso ao conhecimento para que se desenvolva e atinja seus objetivos pessoais e profissionais em áreas que sejam dependentes diretamente das habilidades acadêmicas básicas.
Nesse caso, além do suporte pedagógico incluindo reforço constante aos conteúdos escolares, é preciso que se cuide da saúde mental e do ambiente familiar e escolar, para que a criança esteja protegida de riscos como taxas mais altas de evasão do ensino médio, menores taxas de educação superior, níveis altos de sofrimento psicológico e taxas mais elevadas de desemprego ou emprego com rendas menores.
Além disso, é preciso estar atento a presença de outros transtornos do neurodesenvolvimento que podem ocorrer em conjunto, como o TDAH, Transtorno de Espectro Autista, Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação etc.
Os Transtornos Específicos de Aprendizagem têm cura?
Não, eles permanecem ao longo da vida. A forma como se expressam a cada momento depende das exigências do ambiente, da capacidade de aprendizado da criança, da presença de outras condições que pioram as dificuldades nas habilidades acadêmicas básicas (como o TDAH) e das intervenções pedagógicas em curso. O apoio da família, da escola, dos professores e psicopedagogos é fundamental para que os impactos negativos possam ser minimizados, e o acompanhamento médico de extrema importância no diagnóstico e na vigilância de condições que possam piorar o quadro clínico.
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