10 de janeiro de 2023

Você já ouviu falar do Transtorno do Processamento Sensorial no Autismo e TDAH? Leia se quiser saber mais

Como crianças com autismo percebem o mundo pelos sentidos?

Sabemos que as crianças com diagnóstico de autismo têm uma maneira diferente de perceber o mundo. Em até 90% delas, encontramos uma forma atípica de percepção sensorial. Essa percepção envolve todos os sentidos: o olfato, o paladar, a audição, o tato, sensibilidade dolorosa e vibratória, a visão a e a percepção do movimento e da posição do corpo em relação ao meio.

Embora os pesquisadores conheçam essa informação há bastante tempo, foi somente em 2013 que essa característica entrou nos critérios diagnósticos do Transtorno de Espectro Autista (TEA).

Há três padrões sensoriais que foram descritos em crianças com autismo:

  • Hiperreatividade a estímulos sensoriais, como maior sensibilidade a estímulos auditivos (intolerância ao ‘cantar parabéns’ nos aniversários) e tácteis (etiqueta das roupas, calçados, tocar coisas ‘gosmentas’, água tocando a cabeça);
  • Hiporreatividade a estímulos sensoriais, como menor sensibilidade a estímulos dolorosos, tácteis e auditivos (crianças que caem no chão e não parecem sentir tanta dor);
  • Comportamento de busca sensorial, como fascínio e busca por certos estímulos como cheiros, texturas, consistências, padrões visuais, cores…

As pesquisas apontam que os pais de crianças com autismo também costumam ter mais das três características acima do que pais de crianças típicas.

O autismo é uma condição que afeta a parte do cérebro relacionada a comunicação e interação social. Por isso, alguns pesquisadores se perguntam sobre a origem das alterações sensoriais no autismo.

Seriam as alterações sensoriais causadas pela redução da interação e comunicação social definidas pelo autismo ao longo da vida?

O que as pesquisas mostram é que as alterações sensoriais estão presentes muito cedo em bebês de risco para o autismo que depois tiveram diagnóstico o diagnóstico confirmado (estudos feitos em irmãos mais novos de crianças com autismo). Muitas vezes percebe-se já aos seis meses de vida alterações sensoriais, enquanto as alterações de comunicação e interação social ficam mais evidentes em idade mais próxima de um ano.

Sendo assim, não parece que as alterações sensoriais são causadas pelas alterações de comunicação e interação sensorial, já que estão presentes de maneira muito precoce.

Os pesquisadores têm se interessado cada vez mais pelo papel do processamento sensorial no desenvolvimento. Desde o nascimento, o processamento das sensações advindas do corpo e do meio externo influencia as ações da criança.

Ayres propôs o conceito de Integração Sensorial, que significa o processamento e organização das sensações, influenciando a forma de interação com o mundo.

As alterações do processamento sensorial são exclusivas das crianças com autismo?

Não! Elas são mais comuns nas crianças com transtornos do neurodesenvolvimento, mas não são exclusivas. As alterações podem estar presentes entre 5-13% das crianças entre 4-6 anos, em 90% das crianças com autismo e em 50-64% das crianças com Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).

E como as alterações ou transtorno do processamento sensorial (TPS) podem perturbar a maneira como a criança se relaciona com o mundo?

O TPS se manifesta por meio de reações extremas a estímulos sensoriais, geralmente levando a criança a comportamentos do tipo “luta, fuga ou congelamento” que incluem agressão, reclusão ou ansiedade antecipatória com a perspectiva de exposição àquele estímulo sensorial.  

Abaixo descrevo exemplos dessas reações, de acordo com os três tipos de padrões sensoriais diferentes:

  • Hiperreatividade a estímulos sensoriais pode levar a criança evitar tocar o que a desencadeia (água no couro cabeludo, coisas ‘melequentas’ nas mãos, areia e terra nos pés, alimentos de certas texturas), ou evitar situações sociais onde o estímulo esteja presente (como o aniversário quando se trata do ‘cantar parabéns’), ou evitar certas sensações de movimento (balanço) ou trocas posturais desagradáveis;
  • Hiporreatividade a estímulos sensoriais pode levar aparência de desinteresse ou menor vigilância em relação ao meio externo (por redução da percepção dos estímulos externos), ou pode levar a criança a querer morder e levar a boca numa fase do desenvolvimento em que isso já não é mais esperado (para ampliar a experiência sensorial reduzida);
  • Comportamento de busca sensorial pode levar a criança a ficar tocando constantemente nos objetos, inclusive colidindo com eles, tendo pouca consciência dos limites pessoais de espaço. Muitas vezes essas crianças parecem desajeitadas e podem demonstrar inclusive menor noção de segurança, expondo-se a situações de risco para lesão corporal.

E como lidar com essa forma diferente de perceber o mundo?

Quando as diferenças de percepção do mundo e de si levam a prejuízos na maneira da criança se relacionar com o mundo, ou a sofrimento psíquico, deve-se encaminhá-la para avaliação e acompanhamento com Terapeuta Ocupacional que tenha formação em Terapia de Integração Sensorial.

Esses prejuízos podem incluir a viabilidade de outras terapias necessárias ao desenvolvimento da criança, como com psicólogo, fisioterapeuta, fonoaudiólogo etc.

Caso o Transtorno de Processamento Sensorial seja considerado fator causador de seletividade alimentar, outros profissionais como nutricionista podem ajudar na melhora desse impacto.

Em situações nas quais o andar na ponta dos pés está associado ou piorado por alterações do processamento sensorial relacionadas ao uso de certos calçados ou chão frio, o trabalho com fisioterapeuta motor ou psicomotricista muitas vezes também precisa ser associado.

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